domingo, 14 de agosto de 2011

Texto de Tania Galli para exposição

CINTILAÇÕES DO RETORNO COMO DESVIO

Seria preciso iniciar dizendo que as obras de Rodrigo Núñez, agora expostas, não remetem a modelos a imitar e tampouco referem-se a uma perfeição a atingir. Aqui, nos deparamos com a potência dos contágios, com a distribuição nômade e livre própria do simulacro. Simulacro que, sendo afirmado, revela-se como o sistema em que o diferente se refere ao diferente por meio da própria diferença. É verdade que Rodrigo não omite suas fontes inspiradoras. Ao contrário, quer torná-las dignas de nota e reconhecimento. Delas, poder-se-ia dizer que operaram como relâmpagos em seu pensamento fazendo brotar de suas mãos, o devir ilimitado da modelagem da argila. Entre Rodrigo Núñez, Megumi Yasa, Gustavo Nakle, Marlies Ritter e Tania Resmini instaurou-se um fecundo agenciamento de enunciação. Entre eles algo acontece, traduzindo-se como um Fora da imagem, uma vez que as obras de Rodrigo revelam-nos uma espécie de morte do autor enquanto eu solitário, dando voz a um murmúrio diluído do qual não sabemos mais a origem. Trata-se de uma história embrulhada, de um Acontecimento que não cessa, que não começa nem acaba, dirigido que está no sentido do futuro e do passado ao mesmo tempo. Em sua proliferante conversação com a matéria, Rodrigo, como artista-ceramista, recria, fluentemente, variações da linguagem do que pode o barro. Põe-se no plano da criação como um sopro, fazendo cair, diante de nossos olhos, a noção de cópia, assegurando-nos, portanto, o afundamento dos universais. Sua repetição deve ser dita e vista como diferença, produto de seu olhar vibrátil cujo ressoar no mundo das imagens impele à produção de sentido. Com a criação de Rodrigo, o Insano, não estamos diante de um deus que escolhe o melhor dos mundos possíveis, pois desde sua in-sanidade, ele sabe da finitude das formas e alinha-se dentre aqueles que investem no seu avesso, ou seja, nas potências virtuais que as revestem como um forro, inextricavelmente, ligado a uma roupa. Operações de criação que se referem ao movimento e ao tempo, implicando mudança, vibração e irradiações. Agora, já não estamos mais diante de um deus que escolhe o melhor dos mundos possíveis: defronta-nos um processo que passa por todos e afirma-os simultaneamente. Trata-se, assim, de um sistema de variação diante do Acontecimento: criação de um plano em comum, não rebatendo-o sobre um presente que o atualiza num determinado mundo, mas fazendo-o variar em diversos presentes pertencentes a distintos mundos, embora, num certo sentido, eles pertençam a um mesmo mundo estilhaçado.

Tania Mara Galli Fonseca

Professora do Instituto de Psicologia/UFRGS

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