domingo, 14 de agosto de 2011

Exposição Objetos de desejo

Objetos de desejo

Relatos e confidências

Encaro esta exposição não como um simples exercício de releitura ou revisitação, como preferirem. Ela vai além disso. Trata-se do processo complexo que está por traz do universo da criação. Ela é mais que uma análise de uma construção de forma, pois, se aproxima do campo afetivo, do contato de diferentes pessoas e diferentes processos de criação.

O que corre paralelamente a todo este trabalho é a discussão de quem somos nós senão uma mera e simples infinita somatória de vivências e experiências. O que fiz aqui foi colocá-las para fora, expô-las e com elas, toda minha fragilidade em admitir que eu não sou somente eu, mas também o outro que está em mim e, principalmente, a admiração por este outro.

Esta exposição vem sendo gestada há pelo menos um ano, mas as relações traçadas entre os trabalhos de quatro artistas bem específicos em minha vida são bem mais antigas.

Uma de minhas primeiras memórias de criança foi na casa de Alvorada de Gustavo Nakle. Precisei apenas de uma visita para aquelas imagens nunca mais saírem de minha cabeça. Era uma casa simples de madeira e eu estava na companhia segura de meu pai. Tinha aproximadamente cinco ou seis anos. Fomos recebidos por ele e, em meio a conversa, ele nos levou até um quarto onde tinha um armário antigo onde, ao abri-lo, desvendou-se um universo de sonhos e fantasias. Eram faunos e figuras mitológicas. Se antes eu poderia acreditar que dentro de armários existiriam monstros, ali eu tive a mais absoluta certeza. Mas minha vontade não foi a de fugir, mas sim, a de querer brincar, e assim, passei minha vida inteira a espera do dia em que eu poderia brincar com as figuras do Nakle.

A Marlies Ritter também está presente em meu processo de criação há muito tempo. Nos primeiros anos de faculdade fui convidado a ajudá-la em um workshop para crianças. Lá eu a redescobri em dois sentidos. O primeiro como mãe-artista de dois amigos meus do colégio; o segundo como a artista que fazia enigmáticas exposições de peixes, lentilhas e arroz que, naquele momento, me deixavam ainda mais confuso sobre questões de arte. Anos depois, refiz o contato e desta vez, eu já era professor de cerâmica do Instituto de Artes e comecei a levar turmas de alunos para conversar sobre arte e processos de criação. E naqueles encontros pude desfazer todos os mistérios e reconhecer toda sua sutileza e delicadeza em seu processo, uma biografia construída com as mãos e a matéria. Sua vida, seu cotidiano estavam sempre presentes, questões femininas de mãe, filha e mulher que transcendem minha limitada percepção masculina.

A Tania Resmini surgi para mim também neste período, entre o de ser aluno e tornar-me professor. E, aproveitando esta condição, comecei a levar alunos ao seu ateliê. Lá, ela revelou-se extremamente generosa. Não somente por abrir seu ateliê, mas por expor seu processo e sua técnica impecável, sem pudores, sem receios. É com sua simplicidade que a Tania nos conquista. Há em seu trabalho a delicadeza e a energia dos gestos, um processo orgânico, vivo e sem mistérios.

Não dá para referir-se à Megumi Yuasa sem contar uma breve história que antecedeu nosso primeiro encontro. Logo no início da faculdade fui explorar a biblioteca. Lá encontrei um livro sobre cerâmica brasileira e um dos trabalhos que mais me impressionou foi a semente de um tal de Megumi. Imediatamente pensei: já imaginou se um dia exponho junto com esse cara? Imediatamente percebi que essa situação era distante demais e pensei: não viaja!

Anos depois, e já como professor tive o prazer de fazer um curso com ele, e pude perceber que minha afinidade ia além da admiração por seus trabalhos. Hoje entendo que é uma questão de postura de vida, de posicionamentos sobre arte. Eu o descobri como um mestre poderoso, grandioso e sábio, mas acima de tudo, generoso. Seus trabalhos são como pequenas poesias que com poucas palavras atingem profundamente nossa sensibilidade. Não há o que tirar ou colocar. Não há espaços para desvios. Ou tudo é puro desvio. Mas, ao mesmo tempo, é preciso, direto e sem rodeios. Suas formas são como descanso para o olhar, um lugar para nos perdermos nos detalhes, nos pequenos grafismos e nuances de cores.

Muitos anos depois, o mestre revela sua grandeza e mostra para o ingênuo jovem que os sonhos podem realizar-se. Mas não somente para mim, mas para meus alunos que participavam comigo de uma exposição na qual ele, generosamente, também participava.

Mas de nada adiantaria todas as influências se não soubesse aprender. E esta capacidade de escuta devo, principalmente, à minha querida professora Tania Zara, para quem, com muito carinho e afeto - de um eterno aluno - dedico esta exposição.

Rodi Núñez

2 comentários:

um coração sujo de tinta. disse...

Que texto bonito, professor :] hoje quando vi as fotos na aula, e agora vendo melhor, descobri algo no meu olhar; gosto de imaginar como foram feitas, acho que é o que procuro. Entender e compreender o feitio simples. Obrigada por compartilhar teu espírito tão generoso de idéias e nos orientar com tanta doação. Quando elogiou meu trabalho, o que pensei na hora foi que eu deveria estar dizendo o mesmo, pois não fluiria do mesmo modo com outra orientação.

Sara disse...

Que belos artesanatos Eu adoraria encontrar alguém que realmente gosta de você, mas agora eu estou indo para viagem, porque eu tenho um bom preço para alugar um Apartamentos em buenos aires